Uma
falha de um ou mais motores principais nessa fase inicial
do vôo é algo bastante crítico. A saída
é prosseguir na subida e executar um perfil (apenas
testado em simulação) que nos leva a uma altitude
segura, ejetar foguetes de propelente sólido, manobrar
para retorno, usar o combustível disponível
no tanque externo, ejetá-lo e voltar para pouso no
Centro Espacial Kennedy. Esse modo de aborto de missão
é chamado, retorno para o ponto de lançamento
(RTLS - Return to Launch Site).
O
propelente dos SRBs (Foguetes de Propelente Sólido)
termina em torno de 2 minutos e 12 segundos. Nesse momento,
com Mach 4.5 e a 50 quilômetros de altitude, os dois
foguetes são ejetados e caem no mar com pára-quedas,
sendo resgatados por navios a cerca de 210 milhas da costa
americana. Eles serão checados e utilizados para outras
missões.
Agora
o ônibus espacial consiste apenas do veículo
orbital e do tanque externo, ligado à parte inferior
da espaçonave e alimentando os três motores principais
com um fluxo incrível de oxigênio e hidrogênio
líquidos. O conjunto continua a ganhar velocidade e
altitude. Há seis minutos e meio no vôo, estamos
viajando a 15 vezes a velocidade do som e já atingimos
130 quilômetros de altitude. Já é possível
ver a curvatura da Terra no fundo negro do espaço.
Na
verdade, já estamos, oficialmente no espaço
(acima de 100 km). Se um ou dois motores principais falharem
nesse instante, há várias opções
de pouso do outro lado do Atlântico, como Zaragoza na
Espanha ou Benguirir no Marrocos. Outra opção
possível, mais alta, é abortar para uma órbita
(AOA -- Abort Once Around). Isto é, prosseguir para
uma órbita de mínima altitude, circular a Terra
uma vez e pousar na Califórnia ou Novo México,
provavelmente. A opção mais cômoda, e
disponível apenas no final da subida, é abortar
para órbita (ATO - Abort To Orbit). Nesse caso, uma
altitude mais confortável de órbita é
atingida utilizando-se uma "queima de inserção"
rapidamente ajustada dos dois motores de mudança de
órbita (OMS - Orbital Maneuvering System) localizados
ao lado do estabilizador vertical. Estando em órbita,
o problema pode ser avaliado com mais calma e reavaliadas
as possibilidades de pouso. Isso aconteceu com a missão
STS-51-F em Julho de 1985, quando um dos motores principais
falhou devido a uma pane de um sensor de temperatura.
A
oito minutos e meio de vôo, próximo do término
do propelente líquido (O2 e H2) do tanque principal,
os motores principais são reduzidos e cortados. Isso
é um ponto importante e comemorado do vôo. Ele
é chamado "MECO" (Main Engine Cut-off). O
tanque externo é ejetado vinte segundos depois, sendo
filmado pela tripulação, enquanto o veículo
orbital manobra e o calor da reentrada destrói a estrutura
de alumínio do tanque. O tanque, destroçado,
cai em local remoto do oceano. Seu custo é estimado
em 50 milhões de dólares.
Nesse
ponto, entramos em uma nova fase do vôo...a inserção.
Fica
para a próxima semana!
Grande
Abraço a Todos,
Marcos Pontes
Marcos
Pontes
Colunista,
professor e primeiro astronauta profissional lusófono
a orbitar o planeta, de família humilde, começou
como eletricista aprendiz da RFFSA aos 14 anos, em Bauru (SP),
para se tornar oficial aviador da Força Aérea
Brasileira (FAB), piloto de caça, instrutor, líder
de esquadrilha, engenheiro aeronáutico formado pelo
Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA),
piloto de testes de aeronaves do Instituto de Aeronáutica
e Espaço (IAE), mestre em Engenharia de Sistemas graduado
pela Naval Postgraduate School (NPS USNAVY, Monterey - CA). |